Enquanto Portugal ressacava de uma revolução civil bem sucedida, em Nova Iorque os computadores chegavam pela primeira vez à redacção do NYTimes, foi em Dezembro de 1974. Era o primeiro contacto do jornal com as maravilhas das novas tecnologias e o primeiro passo rumo a uma globalização que uma ainda precoce World Wide Web patrocinaria.
Vinte anos depois, a 9 de Junho de 1994 é lancado o @Times, um serviço de arte e entretenimento suportado pela America Online. Era o ensaio final para o profetizado New York Times On The Web, nascido a 19 de Janeiro de 1996. The Gray Lady - nome como também é conhecido o jornal - estava assim disponível a qualquer um através da maior rede do planeta.
O estatuto de newspaper of record - jornal de referência - herdou-o da versão em papel do diário e do rótulo de conservador também não fez questão de se divorciar. O
nytimes.com é geneticamente fiel ao seu modelo em papel.
Em
nytimes.com encontramos, todos os dias e sem excepção, como apelo maior, as principais noticias do dia graficamente destacadas. O conceito não é novo e todas as versões online de jornais o fazem. Se optarmos por uma selecção de noticias mais organizada apercebemo-nos de que os conteúdos essencialmente informativos estão divididos em 14 secções. São elas:
International, National, Washington, New York Region, Business, Technology, Science, Health, Sports, Education, Weather, Obituaries, NYT Front Page e Corrections.
A opinião também é uma realidade. O
nytimes.com disponibiliza ao utilizador as opiniões dos editores, dos leitores e do representante dos leitores, o nomeado Public’s Editor. A seccção da Opinião está assim dividida em:
Editorials/Op-Ed, Reader’s Opinions e The Public Editor.
O
nytimes.com conta ainda com uma secção temática onde o leitor tem à sua disposição os seguintes items:
Arts, Books, Movies, Theater, Travel, NYC Guide, Dining & Wine, Home & Garden, Fashion & Styles, Crossword/Games, Cartoons, Magazine, Week On Review, Multimedia/Photos (com conteúdos video e audio disponíveis) e Learning Network.
À parte de todo este conteúdo informativo o
NYT on The Web oferece ao utilizador uma série de serviços, a possibilidade de registo como leitor activo da versão online do jornal e a oportunidade de ter acesso real ao formato em papel do jornal.
Quanto ao aspecto geral da página inicial, e como já tive oportunidade de referir numa análise anterior, os conteúdos com que o leitor é confrontado à partida parecem-me excessivos. É notória a preocupação em referir os mais variados temas num primeiro contacto do utilizador com o site mas, na minha opinião, a oferta desmesurada acaba por confundir e leitor.
Por outro lado, o aspecto sóbrio e directo – características do NYT em versão paupável – transferiram-se com sucesso para o formato online e o resultado é a igual credibilidade que o jornal acaba por conseguir.
Os responsáveis pelo
nytimes.com publicitam o seu trabalho como uma oferta das mesmas notícias diárias que a versão em papel acolhe, a actualização noticiária a cada 10 minutos, estatisticas e resultados desportivos actualizados ao minuto, notícias exclusivas da mercado da bolsa, a previsão do estado do tempo para os cinco dias seguintes em 1500 cidades do mundo, uma livraria grátis de mais de 5000 artigos de opinião, pesquisa histórica, pesquisa gratuita de artigos noticiosos e, para os famintos de divertimento, palavras cruzadas e outros jogos do género. É, sem dúvida, um vasto e respeitável cartão de visita.
Toda esta excelência do jornal é contestada por um legítimo alerta do Prof. Adam L. Penenberg (NY University) num
artigo de opinião publicado no
wired.com. Penenberg questiona o estatuto de Newspaper Of Record do
NYTimes Online já que os seus artigos rara e dificilmente aparecem no Google, o maior e mais eficaz motor de pesquisa da World Wide Web.
Falhas postas de parte, a verdade é que o nytimes.com é um caso efectivo de sucesso. Os mais recentes resultados indicam-nos 21.3 milhões (confirmar
aqui) de visitas únicas no mês de Setembro – números também inflaccionados pelo Katrina – o que representa um aumento de 49% em relação a igual período do ano passado. 516 milhões de visitas mensais – representa uma subida anual de 19% - colocam o
nytimes.com como o segundo órgão de informação online mais procurado pelo cibernautas.
As secção mais visitada é a de informação nacional (com um aumento anual de visitas na ordem dos 300%), se bem que os valores estão intimamente relacionados com os furacões que atingiram os Estados Unidos e as recentes mudanças polémicas no Supremo Tribunal.É igualmente importante referir que a secção multimédia do site registou um aumento de visitas na ordem dos 100%, o que só vem premiar a aposta do órgão de comunicação no melhor equipamento dos seus jornalistas.
A
New York Times Electronic Edition está também agora disponível - mediante pagamento - ao utilizador e não é mais do que uma cópia da versão em papel do jornal rigorosamente reproduzida no ecrã de qualquer computador. É mais uma inovação do The Times rumo, ao que se espera, ser a forma de leitura de um jornal num futuro já não muito distante.
É toda esta excelência que fez do nytimes.com o órgão de informação mais premiado nos recentes
Online Journalism Awards. As vitórias nas categorias General Excelence, Outstanding Use Of Multiple Media (com a reportagem
Class Matters) e Breaking News (
Asia’s Deadly Waves) só vieram confirmar o bom trabalho que os responsáveis por este projecto têm vindo a representar.
Como nota negativa, e já que falamos em responsáveis, fica o facto de não estar disponível a qualquer utilizador interessado uma ficha técnica de todos os que constituem parte integrante deste projecto. E quando tentamos contactar os poucos nomes que nos foram dispensados a resposta nem chegou a o ser. Dois aspectos a lamentar num órgão que não deixa de ser de excelência mesmo que o feedback com o utilizador seja pouco mais que nulo.